Abaixo, a descrição das linhas com seus respectivos integrantes:
Narrativas, deslocamentos e conexões
Narrativas, deslocamentos e conexões
Esta linha de pesquisa volta-se ao estudo de temas diversos pautados por três eixos: deslocamentos, narrativas e conexões. Interessa aos pesquisadores da linha problematizar como experiências humanas fundamentais, a dos deslocamentos e a das narrativas, se articulam a partir das conexões que se estabelecem, entre outros, por atores, objetos, signos e espaços. Em seu nível mais elementar, tal articulação se dá na passagem do tempo, no trânsito entre os diferentes espaços e/ou ainda na transformação experimentada nos sentidos e nos significados das palavras, dos conceitos e das ideias, que engendram registros, em múltiplos suportes, das mudanças de compreensão da realidade material e simbólica disso derivadas.
Nesse sentido, os deslocamentos espaciais, voluntários ou impostos, são concebidos como experiências humanas que acontecem em um espaço historicamente qualificado e situado social, econômica, política e culturalmente, produzindo rupturas e ressignificações que se expressam no âmbito das linguagens e das narrativas. Não se esquecendo que, ao se deslocarem, os sujeitos históricos carregam consigo objetos e ideias, que são continuamente ressignificados ao longo dessa jornada, e que conectam espaços antes descontínuos. Dessa maneira, os deslocamentos têm que ser percebidos na sua relação com a estratificação do tempo, seja na experiência dos indivíduos e/ou coletividades, seja nas diferentes formas de uso, e de abuso, do passado e da memória coletiva. Assim, travejadas pelos deslocamentos, as narrativas podem ser pensadas para além de sua dimensão intralinguística, como objetos historiográficos gestados por serem experiências humanas localizadas temporalmente e constituídas por deslocamentos e conexões tantos no espaço, quanto no tempo.
Narrativas incluem os relatos de viagem, as biografias, as memórias e as múltiplas formas de escritas de si, as produções literárias, jornalísticas e retórico-poéticas, bem como a historiografia e a memória disciplinar instituída, sem desconsiderar as dimensões retóricas das escritas produzidas pelo Estado e por seus agentes. Impõe-se enfatizar, entretanto, que a ideia que se têm aqui de narrativa ultrapassa a tradição escrita para abarcar também sua dimensão inscrita na cultura material, visual e oral. Como vértice das análises desenvolvidas, as conexões permitem o travejamento entre narrativas e deslocamentos em uma tripla chave: uma que lida com as relações concretas entre sujeitos, objetos e espaços, num recorte temporal sincrônico, naquilo que se têm denominado “histórias conectadas”, em contraposição ao comparatismo estrutural; outra que se preocupa com uma arqueologia das sobreposições dos estratos temporais, naquilo que liga passado(s) e presente(s) histórico(s), assim contraposta a uma leitura estanque da experiência humana na história; e, por fim, a que busca os pontos de aproximação e de contato entre as práticas dos saberes, que reclamam uma compreensão multidisciplinar da produção do conhecimento e dos sentidos simbólicos da vida humana. Nesse sentido, as experiências humanas aqui compreendidas são entendidas tanto por meio de seu par complementar – as expectativas, que permitem localizar os espaços e os horizontes de suas historicidades –, quanto em sua articulação com as condições materiais de produção, e reprodução, dos objetos e das fontes, que permitem identificar as narrativas, os deslocamentos e as conexões que estabelecem entre si.
As pesquisas abrigadas nesta linha operam, em primeiro lugar, com a própria reflexão e problematização acerca da experiência do tempo histórico; das circulações, dos contatos e das trocas produzidas em meio a experiências históricas específicas; e do próprio narrar pela historiografia. Fazem-se também presentes as que investigam os usos das linguagens – verbais e não-verbais –, dos conceitos, das práticas discursivas, dos câmbios semânticos e dos contextos linguísticos, ao mesmo tempo que observam a materialidade de tais usos, práticas, câmbios e representações, inquirindo como essas se traduzem e se transladam entre diferentes espaços, suportes e signos. Por fim, as que analisam como as experiências se articulam a partir da constituição de redes, com qualidade e extensão variadas, de círculos sociais, de práticas, valores e sociabilidades intelectuais, e de virtudes epistêmicas do historiador, localizando as conexões e os agentes em seus deslocamentos e na produção de suas narrativas, conectando um e outro. Essas questões são pensadas a partir dos trabalhos de: Walter Benjamin, Pierre Bourdieu, Peter Burke, Roger Chartier, Michel Foucault, Carlo Ginzburg, François Hartog, Reinhart Koselleck, Paul Ricoeur, Jean-François Sirinelli, Sanjay Subrahmanyam, Hayden White. Longe de serem exclusivas, às perspectivas críticas desses autores somam-se as visões propiciadas por historiografias como a decolonial, de gênero, global, transnacional.
Em resumo, a linha debruça-se sobre as narrativas e os discursos compreendidos enquanto práticas sociais e culturais, bem como analisados em suas dimensões políticas para compreender as conexões e os deslocamentos no tempo e no espaço, reconstruindo os circuitos de produção, de circulação, de consumo e de recepção dessas narrativas e discursos. Busca enfim compreender as narrativas, os discursos e as representações nos seus diferentes estratos do tempo e nos espaços deslocados, conectados e reconectados.
Docentes: Prof. Dr. Antônio Simplício de Almeida Neto, Prof. Dr. Dirceu Marchini Neto; Prof. Dr. Fábio Franzini, Prof. Dr. Gilberto Silva Francisco, Prof. Dr. Glaydson José da Silva, Prof. Dr. Luís Filipe Silvério Lima, Profª. Drª Samira Adel Osman, Profª. Drª. Wilma Peres Costa.
Normas, espaços e deslocamentos
Normas, espaços e deslocamentos
Esta linha abriga investigações que problematizam formas organizativas sociais, sejam elas de natureza jurídica, corporativa, educacional, patrimonial, artística, políticocultural, eclesiástica, entre outras, como essenciais para se compreender a ação dos sujeitos sociais. Em termos gerais, trata-se de enfatizar o papel estruturante da cultura a partir de práticas sociais e discursivas que buscam estabelecer regras ligadas a regimes, tradições, padrões em disputa, tendo em vista sua inexorável vinculação a alguma forma de poder (que não apenas o estatal). Nosso enfoque propõe pensar estes sistemas de significações em seu permanente movimento, ou seja, nas suas continuidades e rupturas temporais, espaciais, admitindo que tal movimento pressupõe tensões entre referenciais locais/externos e/ou disputas entre grupos e agentes.
Para tanto, três dimensões são importantes, e mesmo indissociáveis: primeiro, a das normas estabelecidas socialmente que, para além do discurso legal institucionalizado, busca analisar as regras ditas/escritas e as não ditas, objetivas e subjetivas, os pactos sociais que estabelecem uma verdadeira tessitura social em que os agentes reproduzem seus ritos e a transformam permanentemente. A segunda dimensão é a espacial, vista numa perspectiva próxima das categorias geográficas, em que os jogos de escalas permitem abordagens espaço-temporais múltiplas pelos docentes da linha, que as tratam desde a micro-escala de ações e fenômenos, perpassando a territorialidade dos eventos e englobam discussões que extrapolam as fronteiras geopolíticas, examinando-as em suas tessituras organizacionais. Esta concepção espacial é fundamental, uma vez que as práticas interagem com e em determinados lugares, produzindo circulação de ideias, concepções, saberes e narrativas. Estão sob as lentes das diferentes investigações os processos de constituição de territórios (simbólico, econômico, político) e os lugares de emissão, circulação e recepção do que foi produzido/ apropriado por seus diferentes agentes. A terceira dimensão que define esta linha de pesquisa é a dos deslocamentos, entendidos como processos que ocorrem em diferentes níveis e escalas, pressupondo ressignificações e apropriações. Nessa perspectiva, atentamos para as implicações dos deslocamentos na dinâmica construção de sentidos do mundo simbólico; nas diferentes práticas que, pluralmente e, por vezes, contraditoriamente, traduzem e perfazem as manifestações da cultura. Enfatiza-se que as normas e os espaços são tratados em suas conexões com processos e instituições similares em outras escalas, com as pressões, tendências e influências inter e transnacionais que atuam sobre suas configurações. Também nos interessa compreender a importância das redes de sociabilidade, de determinadas hierarquias, circuitos, e do impacto que produzem. Desta maneira podem ser detectadas estratégias mais ou menos visíveis do exercício do poder, conflitos de ideias, batalhas de representações, imposições e resistências.
Os docentes que integram a linha tratam de temas e temporalidades diversas, vários deles abarcando o papel das normas e instituições nos campos da educação, da saúde pública, da religião, da cultura material, dos impressos, do direito, da história urbana, da ciência e do cinema. Os trabalhos de Raymond Williams, Michel Foucault, Walter Benjamin, Pierre Bourdieu, Reinhart Koselleck, Roger Chartier, Bruno Latour são referências relevantes dessas pesquisas. Abordagens historiográficas que valorizam metodologicamente o viés transnacional, as comparações e conexões (Marc Bloch; Barbara Weinstein; Thomas Bender), bem como propostas recentes como a aplicação e a crítica à tecnologia digital nas humanidades (Matthew K. Gold;) ou novas abordagens sobre o papel do Estado (Steinmetz) também são referências importantes para as investigações que esta linha abriga.
Docentes: Profª. Drª. Ana Lúcia Lana Nemi, Profª. Drª. Andréa Slemian, Prof. Dr. Bruno Feitler, Profª. Drª. Claudia Regina Plens, Prof. Dr. Fabiano Fernandes, Prof. Dr. Fernando Atique, Prof. Dr. Luis Ferla, Profª. Drª. Mariana Martins Villaça, Prof. Dr. Rafael Ruiz; Prof. Dr. Rodrigo Faustinoni Bonciani
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Deslocamentos, trabalho e experiências
Deslocamentos, trabalho e experiências
Esta linha de pesquisa desenvolve estudos que envolvem a tríade deslocamentos, trabalho e experiências. Das pesquisas aqui desenvolvidas, emergem conceitos como: trabalho; experiência; capitalismo; conflito; deslocamento; transnacionalidade; classe/grupo social; etnicidade; Estado; nacionalismo; território; memória; oralidade; cultura; identidade; cotidiano; gênero; racismo e subalternidade.
De maneira ampla, considera-se como pertinentes à linha os temas e as abordagens circunscritos ou não às fronteiras nacionais ou regionais entre os séculos XVI e XXI, quando os processos de construção do capitalismo forçaram parcelas da população a abandonar seus territórios e formas de vida.
No capitalismo, a violência perpetrada sobre os modos de vida das populações é analisada nesta linha considerando três eixos. A) Deslocamentos: presente, entre outros, no tráfico de africanos, nas migrações (América, Europa, África e Ásia), entre os povos originários da América, nas práticas de agricultores expulsos da terra e entre os livres e pobres e/ou escravizados, nos processos de colonização, nos conflitos bélicos, nas missões religiosas, no comércio e no trabalho compulsório. B) Tal fenômeno também se evidencia noutro eixo, que congrega as formas de trabalho distintas daquelas dos locais de origem desses homens e mulheres deslocados, não só espacialmente, mas também do seu anterior controle sobre os meios de reprodução da vida social e agora sujeitos a diferentes modalidades de controle, do trabalho livre e escravo a um mosaico de formas compulsórias, todas capazes de gerar acúmulo de capitais. C) Experiências: considera que os sujeitos históricos trazem consigo experiências na forma de culturas e práticas sociais e políticas elaboradas em termos identitários. Estas implicam em permanências, transformações, circularidades e impactos diversos na sociedade, na memória individual e coletiva e no meio ambiente de onde partiram, onde se instalaram ou por onde circularam.
Compreende-se que tais eixos – sem o prejuízo de outros possíveis – produzem interações que potencialmente ensejam novas identidades, desafios e conflitos. São influenciados pelas experiências de indivíduos, grupos e classes em lugares novos e antigos assim como pela ação do Estado e de outros grupos com interesses na sujeição e no estabelecimento de relações sociais desiguais. Estas interações entre ações opressoras, ações de resistência e luta política, são apreendidas no amplo campo da História Social.
Alguns dos autores centrais para a abordagem dos eixos aqui apresentados são: Walter Benjamin, Carlo Ginzburg, Edward P. Thompson, Eric Hobsbawm, Milton Santos, Edward Said, Reinhart Koselleck, John Monteiro, René Rémond, Abdelmalek Sayad, Emília Viotti da Costa, Ranajit Guha, Maria Odila Dias, Joan Scott, Michelle Perrot, Marcel Van der Linden, Sven Beckert e Guillaume Boccara.
Docentes: Prof. Dr. André de Arruda Machado, Prof. Dr. Clifford Welch, Prof. Dr. Denilson Botelho, Profª. Drª. Edilene Toledo, Prof. Dr. Jaime Rodrigues, Prof. Dr. Janes Jorge, Prof. Dr. José Carlos Vilardaga, Prof. Dr. Luigi Biondi, Profª. Drª. Maria Luiza Ferreira de Oliveira, Profª. Drª. Mariza Soares, Prof. Dr. Odair da Cruz Paiva, Profª. Drª. Patrícia Teixeira Santos, Profª. Drª. Fabiana Schleumer, Prof. Dr. Iuri Cavlak.